sábado, outubro 11, 2008

Formação


Valdano escreve: “Recordemos que o tempo é o melhor treinador e que é preciso deixá-lo fazer o seu trabalho”. Para mim, não há maior verdade que esta na formação. Podemos dar as voltas que quisermos, mas caíremos sempre que tivermos pressa. Valdano centra-se nos grandes treinadores e nos grandes jogadores, nas crises, na impaciência dos adeptos. Mas eu centro-me na formação. No tempo e na paciência que é preciso ter. Certamente o tempo não faz nenhum trabalho, mas é nesse tempo que os resultados aparecem. E é por isso que é importante esperar... Esperar que os resultados apareçam. Mas para esperar é preciso coerência. Se gosto de um Futebol bem jogado com muita variabilidade no que toca ao tipo de passe, com alternância constante de ritmos, muita circulação de bola com qualidade, é preciso ser coerente e saber que as coisas levam tempo a acontecer. As escolhas não podem estar contra esta ideia de jogo. Por exemplo, não posso escolher um avançado alto só porque vai ganhar os duelos com os centrais adversários, mesmo sabendo que tenho outro avançado muito bom na antecipação, na leitura de jogo, com muita qualidade de passe. Isso seria assassinar o avançado baixinho. E, no fundo, é o baixinho com boa qualidade de passe que tem a ver com o jogar que se pretende. Mas nem sempre há paciência e lá se vê um baixinho cheio de qualidade a ficar na sombra de um gigante que bate na bola sem querer. Coerência e paciência: "segredos" para uma forma de jogar com qualidade.

Formação


Weineck refere ainda que “(...) até aos 10 anos é impossível afirmar, com certeza, se a criança vai ser um nadador, um futebolista ou um tenista (...)”. Isto precisamente porque depois da barriga da mãe, vêm as barrigas da família e da sociedade. Portanto, há múltiplos factores que interferem no desenvolvimento dos talentos. Sendo assim, o processo requer tempo para se realizar. “O que se fez ontem tem que estar ligado com o que se fez antes de ontem e com o que se vai fazer amanhã”. E é necessário um enquadramento teórico, que não se esgota na configuração total, mas há uma necessidade dessa configuração teórica.
Dos 4 aos 18 anos existem dois níveis:
dos 4/5 até aos 13/14;
depois dos 13/14.
Devemos ter em conta que o indivíduo é a condição essencial, mas que não nos podemos esquecer de uma configuração da equipa. No primeiro nível, os jogadores não devem preocupar-se em jogar, respeitando a algumas regras. O professor/treinador é que deve saber com profundidade tudo sobre Futebol e deve entender também os défices de circunstância que os jogadores apresentam. Por isto se diz que o processo de construção da equipa acontece não conscientemente. Há medida que o processo passa a ser marcadamente intencional. Isto porque passa a haver uma capacidade de abstracção.

Formação e futebol: mais do mesmo


O processo de construção da equipa de futebol deve acontecer não conscientemente por parte dos jogadores, entre os 4 e os 18 anos, embora não deva ser totalmente não consciente. Mas até aos 4 anos nada deve ser desprezível. É importante o que se passa na “barriga da mãe, depois na barriga da família e depois na barriga da sociedade”. Jürgen Weineck diz por exemplo que “(...) o processo de formação das capacidades coordenativas, deve iniciar-se com a gravidez, antes do nascimento ou imediatamente depois, sendo por isso indispensável envolver os pais, os educadores dos jardins de infância, os professores e depois os treinadores, que se preocupam com as ciranças até aos 10 – 12 anos, no sentido da importância deste trabalho (...)”. Weineck refere ainda o circo, dizendo que há crianças capazes de realizar muitas tarefas de malabarismo, mas que contudo não se tratam de talentos excepcionais, porque considera que todas as crianças são capazes de realizar esse tipo de tarefas, se motivadas para tal e se viverem oportunidades com tal finalidade. Por isso, diz que esse treino “(...) começa em casa, com os pais, numa actividade diária, onde ainda não se fala em treino, mas em jogo e em brincadeira, em imitação, aproveitando a sua curiosidade (...)”. Neste sentido, acredito que tudo que aconteça desde a gravidez seja importante. E não sei se o processo tem que começar obrigatoriamente aos 4 anos. Porque não começar antes se assim for necessário?

sábado, setembro 20, 2008

2 - 1

Cada jogo com a sua história. Nenhum jogo será igual ao anterior ou ao seguinte. Quando as duas equipas encaixam com sistemas iguais é importante perceber como a equipa adversária joga. Se a equipa não é muito agressiva no momento de transição ataque-defesa é importante valorizar a posse e circulação de bola, valorizando sempre o descongestionamento de jogo, retirando a bola da zona de pressão. Jogando em 1-4-3-3, o posicionamento do trio do meio-campo é essencial, assim como é importante a acção do lateral do lado contrário à bola e o posicionamento do ala e do avançado, também do lado contrário à bola. Mas por vezes, o erro da equipa adversária pode ser grosseiro e tem que ser aproveitado. É importante que a equipa esteja coesa em termos colectivos. Se não há um pensamento comum a equipa rompe. Por exemplo, se uma equipa que também joga em 1-4-3-3, marca os alas contrários HxH, a equipa adversária pode aproveitar isso. Como? Os alas devem reconhecer a importância de abrir nas linhas criando espaço intra-linhas (central-lateral). Caso os jogadores reconheçam a importância de jogar a bola no espaço no “aqui e agora”, as situações de perigo criar-se-ão. Por outro lado, se os alas não reconhecerem isso não irão aproveitar o lado estratégico do jogo. Quanto mais vezes se aproveitar as debilidades da equipa adversária, mais situações de perigo se poderão criar. Mas aqui não é um exercício só dos alas. Se os centrais ou laterais tiverem a bola têm que e virem que os alas estão abertos têm que reconhecer que devem jogar a bola no espaço. Contudo, o médio interior deve também reconhecer que tem que entrar no espaço para aproveitá-lo. O jogo é portanto complexo e exige pensamento colectivo. Os treinadores bem podem falar, gesticular... mas se os jogadores não reconhecerem essa importância, não o irão fazer. O jogador tem a palavra no campo. No entanto, é importante que não se dê pouca importância ao treinador, porque este pode fazer com que os jogadores reconheçam o que devem fazer e quando o devem fazer. Mas nunca no “aqui e agora”. Tudo requer treino.
Dominar o jogo é essencial, mas é importante não se perder de vista aquela identidade que se pretende implementar. Se nem sempre as coisas saem como se pretende é importante tirar notas que nos recordem dos aspectos que têm que ser melhorados.
Um momento importante nos jogos de iniciados são os lançamentos de linha lateral. Nunca se pode baixar a guarda e a concentração tem que ser permanente (a concentração treina-se!). A pressa é inimiga da perfeição e quando se ganha há que ter paciência, aproveitando as pausas para pensar na melhor solução (que pode ser jogar rápido, se o colega estiver sozinho ou lento, se a equipa adversária estiver organizada)
É natural que nem sempre as coisas saiam, contudo, quando o tempo de treino é curto não há tempo para treinar tudo. E se o tempo é curto, torna-se cada vez mais importante treinar a forma como se pretende jogar. Os problemas irão surgindo com a competição e nos próprios treinos. O que é importante é aproveitar esses momentos para melhorar esses mesmos aspectos, em treino e em competição.
O mais importante é sempre a superação. Estar a perder e virar o jogo é sempre benéfico para a confiança de uma equipa. Se for uma auto-hetero-superação, tanto melhor. A reacção aos momentos de adversidade deverá acontecer em conjunto e nunca num caso isolado. É bastante importante que um jogador não procure “resolver” sozinho. É importante que os jogadores que têm tendência para resolver sozinhos, reconheçam quando devem fazer o passe, nunca privando a liberdade do jogador. Contudo, é importante que não se esqueça que “o jogador deve ser livre de agir, mas não deve agir livremente”. Fintar faz parte do jogo, mas não pode comprometer a organização colectiva. É importante então perceber quando se pode fintar e quando o passe é benéfico, porque ao fim ao cabo, a bola corre mais que o jogador.
É verdade que o importante é impor sempre uma determinada forma de jogar com identidade, contudo, o jogo é imprevisível e dum erro de um jogador pode nascer um golo. Depois é preciso reagir a esse golo, sem perder de vista os princípios de jogo.

terça-feira, junho 10, 2008

Torneio de Vila das Aves - Reflexão: parte 1

ASPECTOS-CHAVE
- em nenhum momento, na preparação para o torneio, foi possível ter todos os jogadores disponíveis num treino;
- expectativas elevadas para o torneio;
- a conversa antes do início do torneio.

A preparação para o torneio quase que não existiu. Aqui ou ali fomos tentando colmatar esse aspecto nos treinos, mas sempre de forma separada e nunca tendo o grupo todo junto. Por exemplo, o Fábio só treina às quintas e o Bernardo só treina às terças. O Noronha não treina com os Infantis de competição e o Staff e o Gonçalo treinam com outro grupo de Infantis durante a semana. Outro aspecto: se para outros torneios foi mais fácil reuni-los, neste isso também não foi possível muito devido ao facto de já se estar a pensar nas equipas de competição para o ano. Na última semana de treino tive dois momentos em que pude ter alguns miúdos (seis e sete). Esses momentos foram 3ª e Sábado, sendo que os 7 nunca foram os mesmos. Se na 3ª esteve presente o David e o Noronha, no Sábado isso não aconteceu. A falha terá passado muito por mim, que não fiz pressão para que houvesse um (ou dois) treino(s) extra.

Relexão: parte 2

Apesar do treino de Sábado ter sido bem conseguido e dos nossos jogadores revelarem que já evoluíram bastante, o Torneio não correu bem. Há que realçar que o treino correu bem com esses 6 que estiveram presentes (André, Santiago, Rodri, Fábio, Gonçalo e Edu). Foi por esse motivo que decidi apostar no Fábio em detrimento do Tiago que treina uma vez por semana. Relativamente ao Bernardo, já tínha decidido que ía ser o Edu que iría começar de início. Por duas razões:
1ª - para lhe mostrar que confio nele e para que, dessa forma, ele seja capaz de jogar tal como treina;
2ª - devido ao problema que o Bernardo tem no calcanhar (Doença de Sever) e que o tem condicionado.
O Bernardo é o melhor avançado que temos, contudo, na formação há que não pensar no imediato. Eu acredito nisso e o facto de o deixar de fora, fez com que baixasse um pouco as expectativas para o torneio. Isso não aconteceu só por causa do Bernardo estar condicionado, mas também porque sabía que as interacções entre eles poderíam não ser as desejadas, porque treinaram muito pouco juntos. Apesar de já se conhecerem têm treinado separados e isso condicionou-nos fortemente.
Até Sábado, a equipa que tínha definido era a seguinte: David, Santiago, Noronha, Tiago, Fábio, Gonçalo e Edu. Basicamente a equipa que ganhou os outros dois torneios anteriores (Hummer e Hernani Cup), com a alteração do Bernardo. Contudo, Tínha a dúvida relativamente ao Tiago e essa dúvida transformou-se em certeza no Sábado, porque o Tiago não foi treinar. Optei então por colocar o Fábio de início a médio-centro, já que é lá que ele tem treinado. Recordo que ele começou a gostar de jogar nessa posição devido ao meinho de 4+apoio x 2. O gostar foi fundamental para o êxito do Fábio, porque a metáfora desse meinho serviu muitas vezes para que ele compreendesse que tínha que "distribuir", como ele próprio diz muitas vezes e voltou a fazê-lo no torneio da Vila das Aves.
Anunciei então a equipa (David, Santiago, Rodri, Fábio, Gonçalo, Staff e Edu) depois da conversa que tive com eles no balneário. Nessa minha intervenção, foquei os apectos que considerei fundamentais. No futebol, o momento é bastante importante. Quando cheguei ao estádio, tentei que nada me escapasse. Reparei no envolvimento e vi toda aquela miscelânia de cores. Toda aquela diversidade, todo aquele movimento há-de afectar o estado de espírito dos miúdos. De certeza que mexe com eles de alguma forma e de certeza que uns reagirão melhor que outros. Esse foi um dos aspectos que referi. Os outros aspectos foram os seguintes:
Nem todos poderíam jogar o mesmo porque o torneio era classificativo (alterei essa filosofia no decorrer do primeiro jogo, uma vez que já não teríamos hipóteses de disputar o primeiro lugar);
Quem não jogasse tería que estar a torcer pelos colegas e não a procurar defeitos nos seus desempenhos, porque falar quando se está de fora é bem mais fácil do que fazer as coisas dentro de campo;
A importância de respeitarmos os nossos princípios, a nossa forma de jogar e de não imitarmos os adversários (um aspecto que condicionou a nossa forma de jogar, nomeadamente as reposições de bola dos guarda-redes foi o facto da do guarda-redes ser delimitada por uma linha transversal às duas linhas laterais, o que fazía com que fosse muito fácil à equipa adversária pressionar nas reposições de bola e a única solução para o guarda-redes era chutar para a frente, procurando um colega nas alas... mas os pontapés aconteceram mais para o centro do campo, porque em situações de maior pressão o guarda-redes não tínha descernimento para optar por uma solução melhor. Não está habituado a tal).
Falei da sub-dinâmica entre médio-centro e defesas (quando um defesa sobe para atacar, o médio-centro deve ficar mais recuado).
Reforcei a importância de jogarmos abertos (aludindo à importância que os alas têm nesta sub-dinâmica da equipa) quando temos a posse da bola para que tivessemos mais espaço para jogar e que deveríamos jogar mais perto uns dos outros quando os adversários não tivessem a bola;
Reforcei ainda a importância de termos que guardar a bola para nós, jogando de pé para pé. Nesse sentido, mostrei um vídeo curto de um jogo entre Barcelona e Liverpool em que o Barcelona trocou a bola durante dois minutos sem que o Liverpool tocasse na bola. Fui tocando em aspectos que estão bem patentes no vídeo como o facto de termos que "virar o jogo quando há muita confuão" (retirar a bola da zona de pressão) e de que o guarda-redes também é um elemento importante quando pretendemos que isso aconteça e não há colegas para jogar à frente (linhas de passe).
Por último, alertei para o facto dos avançados terem que estar do lado da bola, apoiando o colega que tem a posse da mesma, dizendo que os deslocamentos deveríam ser transversais ou longitudinais no sentido da baliza adversária (claro que com uma linguagem adaptada aos miúdos).
Depois dessa pequena intervenção as minhas expectativas elevaram-se um pouco, porque senti-os confiantes para o primeiro jogo. Começámos a ganhar 1-0, mas não fiquei eufórico, uma vez que o golo resultou de uma jogada individual do Noronha. Estava mais preocupado em interagir com o Fábio dizendo que ele tería que ficar mais recuado quando um dos defesas subisse para atacar, mantendo-nos assim em segurança, até porque o Moreirense jogava com dois avançados. O Fábio esteve bem quando o Noronha subía, contudo, as situações de igualdade numérica foram muitas, porque o Noronha procurou muito as jogadas individuais e na maior parte das vezes perdeu a bola no meio-campo ofensivo. Os alas não recuperavam a tempo, o que nos deixava muitas vezes num 2x2 ou até num 3x2, que era mais perigoso. No entanto, considero que os maiores problemas acontecíam quando o Noronha não subía, ou seja, quando perdíamos a bola no meio-campo ofensivo e o Fábio não era capaz de recuperar a posição. Insisti bastante com ele nesse aspecto e ele foi melhorando isso ao longo dos jogos.
O facto de estarmos a jogar contra uma equipa de competição aumentava a necessidade de nos superarmos como equipa, mas isso não aconteceu. Quer o Gonçalo quer o Noronha estiveram bastante individualistas no primeiro jogo e isso custou caro. É certo que os primeiros dois golos do Moreirense foram algo esquisitos, contudo depois disso ainda sería possível virar o jogo. Contudo não foi isso que aconteceu. Os erros foram-se sucedendo e isso afectou o colectivo. É importante realçar que a sub-dinâmica dos defesas esteve deficiente e isso ficou evidente nos últimos golos que sofremos. O facto de terem treinado pouco juntos, com todos os colegas, contribuiu bastante para isso, do meu ponto de vista.
No fim do jogo, foquei estes aspectos e disse que a partir daquela altura teríamos que fazer o melhor possível. Reforcei o facto de já não dependermos de nós, mas de ser importante tentarmos jogar em equipa, porque só assim as coisas poderíam correr melhor.
O Noronha chorava, o que achei perfeitamente natural. Para além de ter perdido e de ter tentado resolver as coisas sozinho (ou seja, não da melhor maneira...!), tínha sofrido algumas entradas duras.

Reflexão: parte 3

Depois dessa pequena intervenção as minhas expectativas elevaram-se um pouco, porque senti-os confiantes para o primeiro jogo. Começámos a ganhar 1-0, mas não fiquei eufórico, uma vez que o golo resultou de uma jogada individual do Noronha. Estava mais preocupado em interagir com o Fábio dizendo que ele tería que ficar mais recuado quando um dos defesas subisse para atacar, mantendo-nos assim em segurança, até porque o Moreirense jogava com dois avançados. O Fábio esteve bem quando o Noronha subía, contudo, as situações de igualdade numérica foram muitas, porque o Noronha procurou muito as jogadas individuais e na maior parte das vezes perdeu a bola no meio-campo ofensivo. Os alas não recuperavam a tempo, o que nos deixava muitas vezes num 2x2 ou até num 3x2, que era mais perigoso. No entanto, considero que os maiores problemas acontecíam quando o Noronha não subía, ou seja, quando perdíamos a bola no meio-campo ofensivo e o Fábio não era capaz de recuperar a posição. Insisti bastante com ele nesse aspecto e ele foi melhorando isso ao longo dos jogos.
O facto de estarmos a jogar contra uma equipa de competição aumentava a necessidade de nos superarmos como equipa, mas isso não aconteceu. Quer o Gonçalo quer o Noronha estiveram bastante individualistas no primeiro jogo e isso custou caro. É certo que os primeiros dois golos do Moreirense foram algo esquisitos, contudo depois disso ainda sería possível virar o jogo. Contudo não foi isso que aconteceu. Os erros foram-se sucedendo e isso afectou o colectivo. É importante realçar que a sub-dinâmica dos defesas esteve deficiente e isso ficou evidente nos últimos golos que sofremos. O facto de terem treinado pouco juntos, com todos os colegas, contribuiu bastante para isso, do meu ponto de vista.
No fim do jogo, foquei estes aspectos e disse que a partir daquela altura teríamos que fazer o melhor possível. Reforcei o facto de já não dependermos de nós, mas de ser importante tentarmos jogar em equipa, porque só assim as coisas poderíam correr melhor.
O Noronha chorava, o que achei perfeitamente natural. Para além de ter perdido e de ter tentado resolver as coisas sozinho (ou seja, não da melhor maneira...!), tínha sofrido algumas entradas duras.
No jogo seguinte o marcador sofreu algumas oscilações, começámos a perder (1-0), depois estivemos a ganhar (2-1) e depois voltámos a cometer erros e perdemos 5-3. Foi na segunda parte desse jogo que decidi que iría dar mais tempo de jogo aos que tínham jogado menos. O Vizela também jogava com dois avançados e o facto de nos pressionarem levou a que acontecesse o mesmo que aconteceu no primeiro jogo. Embora o David já jogasse mais a bola para as alas, os jogadores da equipa adversária tínham mais atitude e ganhavam as disputas de bola. De facto, é mesmo urgente que haja competição no escalão de escolas, mas em futebol de sete!
O Vizela também era de competição, assim como o nosso adversário seguinte, o Boavista contra quem perdemos 3-0 (três golos sofridos pelo André que não tínha qualquer hipótese de defesa em nenhum deles... mas eu não o retirei do campo, deixando-o o jogar o jogo todo como prémio pela excelente primeira parte que fez.).
Nestes três jogos uma coisa ficou bastante clara: as equipas de competição que jogaram contra nós tiveram mais atitude. O Boavista e o Moreirense não jogavam melhor que nós, mas corríam mais e chegavam mais rápido à nossa baliza e isso no imediato é benéfico para ganhar jogos. Gostava de fazer aqui uma referência à equipa do FC Porto contra quem jogámos a seguir. Eram todos pequenos, mas percebi claramente que sabem jogar e a grande maioria dos miúdos deve ser de 1998. Jogavam muito à base do engano sem nunca esquecer o colectivo. Apresentavam sim défices de circunstância em relação a nós e às outras equipas contra quem jogaram. Mas pensar no imediato não é o mais correcto quando se trata de formação. O pensamento deve ser a longo prazo e nas equipas com condições para tal deve pensar-se em formar para ganhar.
Os jogos contra FC Porto e Pinheirinhos de Ringe foram os mais fáceis e ganhámos com alguma naturalidade. O plano do detalhe esteve mais evidente nestes jogos, mas reforcei a importância de privilegiarmos o colectivo, retirando quem estava a abusar em iniciativas individuais descontextualizadas. Incentivei sempre os pormenores técnicos, porque considero importante reforçá-los no momento. Mas o importante é que esses pormenores não se tornem descontextualizados relativamente aos princípios da equipa.
Uma coisa ficou evidente: nos momentos de maior pressão, contra equipas de competição, sentimos grandes dificuldades e o facto de ter mudado a filosofia que trazia para o primeiro jogo foi um aspecto fundamental para que não ganhassemos, por exemplo ao Boavista. Fizemos uma primeira parte muito boa, porque jogámos como equipa, procurando as soluções para os problemas do jogo em conjunto e não de forma isolada. Dado que a pressão surge com a competição considero fundamental que se fomente a competição nos treinos, uma vez que neste momento não há competição para o escalão de escolas. Até que ponto não sería benéfica uma competição mais informal?

A minha experiência pessoal

Digo desde logo que não gosto de perder. Não gostei de ter ficado em 13º em 16 equipas. Contudo, é importante não passar uma imagem negativa para os miúdos. É assim que penso e foi isso que tentei fazer. Apesar de estar completamente furioso pela forma como as coisas estavam a correr, sería importante manter a frieza e agir como tenho agido sempre: privilegiando a formação e não estando orienntado excessivamente para o resultado. Mas não posso dizer que gosto de perder, porque ninguém gosta!
Em certas alturas, senti-me incapaz e isso só me pode orientar para um sentido: procurar melhorar mais mais e mais. Depois de ter ganho dois torneios só pensava "eles ficaram mal habituados e eu também, porque a realidade é esta". Contudo, sei que este grupo podería ter feito melhor se eu não tivesse mudado a filosofia. Assumo as minhas responsabilidades. No entanto frisei várias vezes após os jogos que perdemos que tínha a certeza que eles eram capazes de melhor e que por vezes as coisas não correm como queremos e que também é importante perdermos para que saibamos lidar com algumas situações quando estivermos em vantagem nos jogos. "Assim como não deixar que o adversário nos roube a bola, é importante não deixar que ele não nos roube o resultado", como disse... e nós deixámos que o adversário nos roubasse o resultado duas vezes (contra Moreirense e Vizela). Sería muito mais bonito ter só sorrisos no fim deste torneio, mas as coisas não correram bem e temos que saber sentir o sabor amargo da derrota para que isso não se repita com muita frequência no futuro. Falo obviamento de jogadores e treinadores...

segunda-feira, junho 02, 2008

Vila das Aves - A semana de treinos antes do torneio




Tendo em conta que nos treinos não tem sido possível evidenciar algumas preocupações específicas que temos para o Torneio da Vila das Aves, não será legítimo "cobrar" no torneio o que não foi treinado.

O principal está delineado porque tem sido abordado ao longo do processo de treino. As preocupações têm sido sempre as mesmas e tratando-se de crianças de 9-10 anos não podemos pretender exagerar na informação que transmitimos. Contudo, e tratando-se de um torneio com presenças de equipas como Benfica, Porto, Moreirense, Vizela, Boavista e Guimarães (sem menosprezar as demais...) sería importante que evidenciassemos algumas nuances do nosso jogo, como por exemplo as bolas paradas. Foi isso que procurámos fazer no final do treino de Sábado, mas não estavam presentes todos os nossos jogadores, porque nem todos treinam ao Sábado. Este é um dos aspectos a ter em conta quando se trata de uma escola de futebol. Treinar numa escola de futebol é bastante diferente de treinar num clube. Mas esta questão poderá ser discutida noutro post. De facto transmitimos duas novas situações: um livre e um canto, no sentido de fazer com que consigamos "enganar" o adversário. O pensamento não passa por fazer com que eles mecanizem as situações transmitidas, mas sim que usem aquela sugestão como princípio (e como tal, não um fim) para enganar o adversário. A ideia é fazer passar essa ideia, passe o pleonasmo.

No entanto, as bolas paradas não são o essencial nestas idades... apesar de muitas das vezes decidirem jogos (mesmo nestes escalões!!). O essencial é a forma de jogar. Mas mesmo isso não tem sido treinado de acordo com as dimensões que iremos encontrar no torneio. Esta semana é fundamental para que possamos treinar algumas situações em condições facilitadas. Desequilibraremos as equipas, porque o importante é que as rotinas se criem. Criar-se-ão com facilidade, mas a verdade é que nesta semana de treino temos que aproveitar para voltar a afinar aquilo em que temos insistido ao longo do processo. Isso é que é o fundamental. Porque será nos jogos de domingo próximo que os problemas surgirão, porque nos treinos as situações estarão bastante facilitadas à equipa que vai jogar (porque o grupo de treino durante a semana é muito heterogéneo). Estaremos bem a tempo de resolver os problemas nos 20 minutos de cada jogo, porque é em competição e sob pressão que há a melhor aprendizagem e uma auto-hetero-superação, como diría o professor Vítor Frade.

domingo, maio 18, 2008

O que se aspira...

O guarda-redes faz parte da equipa. É nele que começa o jogo.

Barrigas da mãe, da família e da sociedade

Há múltiplas influências na formação dos miúdos. Nada deve ser desprezível. De acordo com Frade (2007) primeiramente, o processo de construção da equipa deve acontecer não conscientemente por parte dos jogadores, embora não deva ser totalmente não consciente. Mas até aos 4 anos nada deve ser desprezível. É importante o que se passa na “barriga da mãe, depois na barriga da família e depois na barriga da sociedade”. Jürgen Weineck diz por exemplo que “(...) o processo de formação das capacidades coordenativas, deve iniciar-se com a gravidez, antes do nascimento ou imediatamente depois, sendo por isso indispensável envolver os pais, os educadores dos jardins de infância, os professores e depois os treinadores, que se preocupam com as ciranças até aos 10 – 12 anos, no sentido da importância deste trabalho (...)”. Weineck fala ainda do circo, dizendo que há crianças capazes de realizar muitas tarefas de malabarismo, mas que contudo não se tratam de talentos excepcionais, porque considera que todas as crianças são capazes de realizar esse tipo de tarefas, se motivadas para tal e se viverem oportunidades com tal finalidade. Por isso diz que esse treino “(...) começa em casa, com os pais, numa actividade diária, onde ainda não se fala em treino, mas em jogo e em brincadeira, em imitação, aproveitando a sua curiosidade (...)”. Neste sentido, acredito que tudo que aconteça desde a gravidez seja importante. E não sei se o processo tem que começar obrigatoriamente aos 4 anos. Porque não começar antes se assim for necessário? Juan David Torres, a criança colombiana que joga Futebol com uma facilidade tremenda (assim como outros miúdos espalhados pelo mundo - é só procurar no youtube), o que é que nos impede de acreditar que pode aparecer um miúdo de 3 anos que já mostre sintomas de craque? Nada é certo. É preciso que haja flexibilidade nestas questões.
Mencionei Weineck, por causa das capacidades coordenativas. Frade afirma muitas vezes que as crianças têm que dominar o seu corpo primeiro e eu acredito que é através do desenvolvimento das capacidades coordenativas que as crianças podem conhecer melhor o seu corpo. Weineck refere ainda que “(...) até aos 10 anos é impossível afirmar, com certeza, se a criança vai ser um nadador, um futebolista ou um tenista (...)”. Isto precisamente porque depois da barriga da mãe, vêm as barrigas da família e da sociedade. Portanto, há múltiplos factores que interferem no desenvolvimento dos talentos. Neste sentido, o processo requer tempo para se realizar. “O que se fez ontem tem que estar ligado com o que se fez antes de ontem e com o que se vai fazer amanhã” (Frade, 2007). E é necessário um enquadramento teórico, que não se esgota na configuração total.

sábado, maio 17, 2008

Espírito de Vitória


Falando em espírito de virória tem que se falar obrigatoriamente em competição. E é nesse espírito competitivo que se procuram as vitórias, por isso a filosofia a defender deve ser (sempre que se tiver condições para tal) “formar a ganhar”. Esta filosofia é um pouco diferente da Holandesa dado que os Holandeses preocupam-se muito com a qualidade, com o espectáculo. Mas também é fundamental ganhar, porque ninguém fica contente por perder. Dessa forma “o espírito de vitória trabalha-se a competir” e como se pode perceber “a competição é balizadora de todo o processo”. Contudo, creio que temos que perceber em que realidade estamos inseridos. Temos que formar a ganhar, mas formar no Manchester não é a mesma coisa que formar no Gondomar, com todo o respeito pelo Gondomar. Deve haver competição, sem dúvida, mas devemos estar sempre conscientes que, dependendo do clube em que estejamos vamos poder ter mais ou menos vitórias nos jogos. Mas concordo que devemos exigir sempre o máximo nos treinos, porque acredito que ganhar nos treinos é o melhor caminho para ganhar nos jogos. O Futebol de rua assume um papel fundamental neste processo de formar a ganhar. Aquela vontade de pressionar quando a equipa adversária está fragilizada após ter sofrido golo ou a vontade de continuar a atacar, independentemente de se estar a ganhar por 3, 4 ou 10 golos, deve ser incutida nos jovens jogadores, porque este é o verdadeiro espírito de vitória. E não é, ao contrário do que se possa pensar, humilhar o adversário nem ser incorrecto. É sim ter respeito. E é respeito porque só ganha quem faz golos. Falta de respeito será, por exemplo, em “atitude de fair-play” após um adversário ter colocado a bola fora de campo para outro jogador ser assistido, voltar a colocar a bola fora para lançamento lateral, mas perto duma das bandeirolas de canto no meio campo defensivo da equipa adversária. Para mim, a expressão fair-play é mais uma moda do que outra coisa qualquer. Desportivismo é para mim, querer ganhar respeitando sempre o adversário e é importante referir que a ideia que tenho de desportivismo é que este nunca deve ser usado como forma para perder tempo. É o que acontece muitas vezes. Mas isso é outro assunto, talvez para discutir um dia mais à frente. Acredito que fazendo com que a nossa equipa se esforce, se empenhe, queira mais e melhor independentemente do tipo de adversário que surge, é desportivismo e é a isso que, do meu ponto de vista se deve, por exemplo, incutir nos miúdos que treinamos. Eles têm que aprender desde cedo que é importante respeitar o adversário e que, mesmo que não sejam respeitados, devem mostrar classe. Creio que tenho um ponto de vista muito peculiar quanto a isto visto que em muitos dos casos, não é classe nem desportivismo que vejo por aí.

Formação

Faz sentido questionarmo-nos em relação ao tipo de formação. Isto porque é sabido que, como há diferentes formas de encarar o Futebol, há diferentes formas de encarar a formação. Qual o tipo de formação mais eficaz? O que se vê na maior parte dos casos? Estas são questões interessantes e que nos ajudam a perceber que nem tudo é como se vê nos livros. Por experiência pessoal, por exemplo, já pude constatar aquele que imagino ser o pior cenário de todos. Se não for o pior será certamente o pior pelo qual já passei. Passei por um clube onde tudo gira à volta da prática antiga dos antigos jogadores de Futebol. Tudo é feito com base no que aprenderam há largos anos atrás portanto. Nada terá mudado? Não se passou a saber mais sobre o treino de crianças e jovens? Muita coisa mudou sim, mas há algo que não mudou: a forma como se deve ensinar o Futebol. E “ensinar Futebol” pode ser uma expressão traiçoeira, porque apesar de se poderem dar dicas aos miúdos para estes melhorarem os seus desempenhos, o Futebol aprende-se por tentativas repetidas, com muita prática. Isto para que, e citando o professor Vítor Frade, “ a bola seja um prolongamento do corpo”. Mas não é assim que se pensa, não só no FC Infesta como certamente em muitos outros clubes de Futebol. As preocupações com o físico são evidentes. Veja-se por exemplo a questão do tamanho dos miúdos na formação. Há uma obssessão pelos miúdos mais altos e fortes em detrimento daqueles mais pequenos. Os mais pequenos até podem ter alguma técnica, mas nunca preenchem os requisitos quando comparados com um miúdo mais alto. Os mais pequenos aprentam “défices de circunstância”, devido ao seu estado maturacional por exemplo, mas isso não quer dizer que sejam inferiores aos outros. Se fossem inferiores não apareceríam no mundo do Futebol como Fabregas sobre o qual Valdando escreve “(...) Fabregas cresce a cada dia num estilo que se opõe à tendência generalizada. Nem alto, nem forte, nem veloz (...)”. Essa tendência generalizada é portanto a de privilegiar os mais capacitados fisicamente num momento específico do seu crescimento. Quantos talentos não se perderão por causa deste pensamento errado que tem como origem a vontade de ganhar a qualquer custo? Valdano pensa precisamente neste sentido: “Assusta pensar quantos jogadores com este estilo se perderam no caminho por medirem menos de 1,80 m, por não estarem preparados para o choque, por não contribuírem o suficiente para a destruição”. Valdano refere que estes jogadores aparentemente mais frágeis têem a “força dos sobreviventes” e isso é para mim totalmente verdade. A sua presença é cada vez mais importante para “desafiar a tendência que contaminou o futebol desde as divisões inferiores até às primeiras equipas e que premeia o visível (o físico) sobre a opinião (o talento).”.

O jogo deve ter uma mecânica que, por sua vez tem que ter uma ordem, mas não pode haver um controlo excessivo, não devem existir robôs. Porque trabalhar com robôs implica maior dificuldade quando for preciso pensar em vez de executar mecanicamente. Contudo é importante salientar que se não houvesse uma mecânica sería complicada a existência de uma identidade. Portanto, a mecânica é importante, mas deve haver espaço para a imprevisibilidade. A criatividade, a liberdade para criar, devem estar patentes no jogo de futebol, mas para isso devem estar presentes no treino. É essencial perceber isto. E na formação, essa liberdade para criar deve ser fomentada e valorizada. Mas o que há muitas vezes é um “amarrar os jogadores às tácticas”, esquecendo que os jogadores é que jogam. É verdade que o cérebro tem que estar fora de campo (treinador) e dentro de campo (jogadores), contudo quem decide em função das circunstâncias é o jogador. É por esse motivo que entre a ordem deve haver espaço para o detalhe. Mas o que se faz hoje cada vez mais é uniformizar tudo quando há várias formas de conceber o jogo e diferentes formas de jogar. O facto de cada vez mais se privilegiar jogadores “tacticamente disciplinados” é uma forte evidência do fraco equilíbrio que há no Futebol de hoje. A história de Riquelme é um exemplo do estado em que o Futebol está. Para mim, jogadores como Riquelme têm que ter espaço em qualquer equipa. Para mim repito. E friso, nas minhas equipas adoraría ter um Riquelme. A partir do momento que sabería que tínha um jogador assim, o meu objectivo sería fazer a minha equipa jogar com Riquelme. Procurar criar dinâmicas que possibilitem a sua inclusão na equipa. Creio que é aí que está o desafio: é ter um jogador como Riquelme e fazer com que a equipa funcione. Abdicar de Riquelme e fazer a equipa jogar como as outras equipas jogam será muito fácil, porque tudo é igual. Talvez nem seja preciso muito esforço para copiar as ideias dos outros treinadores. Agora, criar uma nova forma de jogar, ou uma forma de jogar autêntica é mais complicado e requer muito esforço. Sem dúvida que requer. Questiono-me então sobre a formação. O que acontece quando aparece um miúdo com muita qualidade com muita propensão para atacar e pouca para defender? A função do treinador é fazer com que esse miúdo evolua e não pô-lo de parte. Deve haver essa valorização por parte do treinador. O treinador deve saber que pode vir a perder jogos, que os mecanismos para o seu jogar podem não surgir de imediato, contudo deve ser paciente e deve preocupar-se acima de tudo em ensinar com qualidade e motivar os miúdos sempre no sentido de fazer o melhor possível, porque não é fácil perder muito na formação. Mas o que se faz em muitos casos é pôr esses miúdos de parte porque os resultados não aparecem. Então convocam um jogador mais forte, mais alto que já consegue dar resposta às situações pretendidas. É a velha questão da pressa, de pensar no imediato. Nada é mais errado que isso na formação. Precisamente porque a pressa, a rapidez, pode ser muito . Baseado num texto de Valdano, há que dizer que a pausa pode ser um sintoma de um bom jogador de Futebol. Assim como na boa música há pausas, no bom Futebol as pausas também devem existir. É preciso saber pausar, olhar, vêr, impôr ritmos diferentes e inesperados. A virtude do Futebol não está nas “rapidezes constantes” mas sim naqueles momentos onde há alternâncias de movimentos, velocidades, de ritmos.

Muito mais que dentro das 4 linhas


O Futebol não se resume àquele jogado nas quatro linhas. Hoje, cada vez mais o que está dentro das quatro linhas passa para fora e também cada vez mais há uma influência de aspectos que residem fora das quatro linhas sobre o que se passa dentro de campo. E como refere Valdano, “profissionalização dos clubes, marketing, o jogo entendido como conteúdo televisivo...” são alguns dos aspectos que comprovam esta influência. É então imprescindível que se perceba esta realidade e que se perceba o Futebol como fenómeno macro. Ou seja, compreender o Futebol como fenómeno político, social, cultural... um fenómeno antropo-social-total. Isto porque só estaremos no fenómeno se estivermos conscientes das suas várias e variadas componentes. Caso contrário não estaremos a par do que se passa e não nos fará grande diferença, porque “não se sente falta daquilo que se desconhece”. É de facto importante perceber tudo que gira à volta do Futebol, para que possamos estar “potencialmente disponíveis para”. Ou seja, para que possamos vir a evoluir. Potencialmente porque nada é um dado adquirido, nada é imutável. Creio que isto tudo é válido, na medida em que o Futebol é uma modalidade apreciada por massas e todos têm sempre algo a dizer sobre Futebol. Por vezes nem sempre o que se diz é inteligente, mas todos pensam que podem opinar sobre Futebol. E nota-se uma grande aproximação de muitos interesses em relação ao Futebol, precisamente por ser uma modalidade apreciada por massas. Mais pessoas, mais dinheiro. As transmissões televisivas, os contratos publicitários, as sessões fotográficas... tudo isso afecta o mundo do Futebol dentro das quatro linhas. Isto porque para além do “jogo jogado” passam a existir outros interesses, outros jogos... fora das quatro linhas. Não raras vezes li na altura do Real Madrid galáctico que Ronaldo chegou 15 minutos atrasado por causa de um anúncio da Nike, por exemplo. Isto para que se entenda que o Futebol já não é aquele jogado apenas dentro das quatro linhas e que os interesses não se resumem simplesmente a fintar o adversário e marcar golo. Portanto é importante perceber esta realidade para que possamos lidar com ela da melhor forma. Caso contrário ficamos na mesma, sem compreender o fenómeno nem o que o rodeia.

sexta-feira, março 21, 2008

Aspectos da formação


Há vários agentes que influenciam os jovens jogadores. Paulo Sousa refere-se a este aspecto dizendo, normalmente, os agentes com mais influência são os pais do jovem atleta, os dirigentes do clube onde é praticante, os professores da escola e, obviamente, os seus treinadores. O envolvimento no treino é importante. Assim como os pais não devem pretender dar receitas aos miúdos, os treinadores também não devem fazê-lo. O treinador deve ser encarado como alguém que está ali para ajudar na evolução dos jovens talentos. Considero ensinar um termo muito forte. Normalmente associa-se ensinar a debitar matéria. Como um talento tem qualidades e não capacidades fica difícil perceber qual o tipo de intervenção que o treinador deve ter. Mas primeiro, importa saber qual o entendimento que o treinador tem sobre os talentos. Serão indivíduos com qualidades ou capacidades? Por vezes consideram-se as qualidades capacidades e procura-se então explorar ao máximo essas capacidades, habitualmente de ordem fragmentada. O que parece importante é aproveitar as qualidades do talento, não perder os aspectos que desequilibram e potenciá-los.
Paulo Sousa refere ainda aspectos como a liberdade, responsabilidade e ainda a afectividade dos pais como forma dos miúdos se sentirem confiantes para continuarem as suas aventuras nos seus clubes, visto que por vezes os miúdos têm que sair das suas cidades para viver noutros locais. Foi o que aconteceu com Paulo Sousa, por exemplo, e é o que acontece com imensos miúdos hoje em dia que vão jogar para o Sporting, por exemplo.
Quando se refere à liberdade e à responsabilidade, acredito que Paulo Sousa toca numa questão central. É sabido que muitos possíveis talentos se perdem fora de campo, daí que seja importante perceber de facto o que se passa na cabeça dos miúdos e no ambiente que os rodeia. Por mais que tenham potencialidades especiais que os diferenciam dos demais, muitos se deslumbram com o enredo formado à sua volta. Em muitos casos tudo faz com que eles pensem que serão futuras estrelas. Tudo que já foi referido anteriormente, mas neste caso especialmente empresários e os próprios pais põe coisas nas cabeças dos miúdos. O que acontece é que os miúdos usam a liberdade que têm e não aprendem o que é ser responsável. Eu não tenho dúvidas que os grandes jogadores souberam associar à liberdade um elevado grau de responsabilidade.

quarta-feira, março 19, 2008

O problema não é o físico!

Eu olho para o Benfica e não vejo que o problema seja o físico. Não pretendo com isto dizer que um jogador não tem que ser capaz de percorrer uma determinada distância para chegar à bola, por exemplo. Mas isso vem por arrasto de outras coisas que são mais importantes e que permitem que o lado físico surja de forma natural e específica para um determinado tipo de jogar que se pretende. Não sei como é que o Benfica tem treinado, mas sei o que vejo nos jogos e acho que não será nenhuma barbaridade afirmar que o Benfica não treina comportamentos, interacções! Porque se treinasse, essas rotinas seríam evidentes nos jogos, o que não acontece. O maior problema do Benfica não é não ser capaz de correr o mesmo que os adversários. O maior problema do Benfica é não ter um fio de jogo, é de não ter princípios. Refiro-me também aos princípios de jogo, mas primeiro faltarão, na minha opinião, outros princípios: princípios orientadores do clube. Onde estamos? Para onde vamos? Que tipo de jogo é que pretendemos para a nossa equipa de futebol? Que jogadores é que pretendemos? Quais os perfis de treinador mais adequados para treinar um clube como o Benfica? Há uma lógica comum no clube? Todos puxam para o mesmo lado?

Mas o problema actual (diz-se) que é o físico e que o Benfica vai aproveitar esta pausa para repôr os níveis físicos. Será? Que tipo de treino é que se fará nestes dias? Não sería mais interessantes treinar comportamentos? Porque no fundo é isso que pretendemos que se veja quando a nossa equipa joga. "Eu treino o que quero que a minha equipa jogue". E numa equipa de futebol, um jogador deve saber o que é que o colega fez para responder de determinada forma. Não é através do treino dito físico que se resolvem as coisas. O físico é sempre um escape quando as coisas correm mal, mas o engraçado é que as coisas não melhoram, e ninguém percebe porquê... as pessoas insistem em não perceber porquê! Arrisco mesmo a dizer que o Benfica não vai conseguir cumprir nenhum dos dois objectivos que tem para esta época. Nem 2º lugar no Campeonato, nem Taça de Portugal. Mas veremos no fim da época se o treino físico numa paragem de campeonato de 15 dias resultou.

Prioridade ao físico (?)


Prioridade ao físico
PEDRO RIBEIRO


"Numa altura em que a época entra na sua fase decisiva, a equipa técnica liderada por Fernando Chalana está a envidar esforços no sentido de os jogadores apresentarem os melhores índices físicos para o que resta do Campeonato e, também, da Taça de Portugal.
Ontem, isso foi evidente durante o treino, com a primeira parte da sessão a ter o físico como tema central dos primeiros exercícios, ainda que os mesmos tenham sido realizados na companhia da bola.
As preocupações com o físico têm sido evidentes por parte de todos quantos estão ligados ao Benfica, e esse foi um dos sectores "reforçados" durante a recente remodelação da estrutura técnica, passando a haver dois especialistas na área: o fisiologista Bruno Mendes assumiu o cargo de preparador-físico, sendo coadjuvado por João Tralhão (promovido da formação). Alterações realizadas aquando da saída de José António Camacho e às quais não será alheia, certamente, a quebra entretanto registada pela equipa, e reconhecida pelos próprios atletas, conforme expressou Nuno Gomes, após o segundo embate com o Getafe. "Há que admitir que, fisicamente, não estamos tão bem quanto desejávamos, e isso não é só devido às lesões", declarou, na altura, o capitão.
A actual paragem competitiva de 15 dias permitirá que o objectivo de melhorar o físico seja alcançado a tempo de serem atingidos os objectivos traçados: segurar o segundo lugar e vencer a Taça de Portugal.


Quatro preparadores ao longo desta época
As mudanças técnicas operados no Benfica ao longo desta temporada têm tido, obrigatoriamente, consequências na preparação física dos atletas.
Os encarnados iniciaram a pré-época com Fernando Santos a liderar uma equipa técnica que tinha em Bruno Moura o responsável pelo "cabedal" dos atletas. Quando saiu, logo no rescaldo da primeira jornada (após empate com o Leixões), Fernando Santos levou consigo o filho de Rodolfo Moura para o PAOK de Salónica.
José António Camacho assinou pelo Benfica em Agosto e recuperou a equipa técnica com quem já tinha trabalhado na primeira passagem pela Luz. Nesse sentido, Fernando Gaspar voltou a assumir a preparação física dos jogadores encarnados, deixando o cargo na semana passada.
Promover Bruno Mendes e João Tralhão foi a solução encontrada pelos encarnados, assumindo ambos a preparação física do plantel até final da época."


em jornal OJOGO, 19-03-2008

quarta-feira, janeiro 30, 2008

"nem com xeltox isto acaba"


"O João Moutinho é um excelente jogador talvez um dos mais regulares do futebol português mas tem um grande problema tem 1,70 ou secalhar nem chega a isso e para a posição onde joga só jogadores foras de série e o João Moutinho definitivamente não o é. Secalhar é por essa razão que nenhum grande europeu o queira comprar."



Li este comentário algures e pretendi comentar. Moutinho não é fora de série? Que o pensem tudo bem. Agora que argumentem isso com base na sua altura ou na sua "finura" acho um bocado ridículo. Senão pensem em Fabregas, Pirlo, Xavi, Iniesta, David Silva... são todos atletas? Saltam todos mais que os outros? Correm mais que os outros? Não. Jogam (muito!) mais. Aí é que está a diferença. Quando uns fazem uso do físico eles chegam mais cedo, lêem o lance mais rápido, fazem jogar a equipa, sabem onde têm que estar, quando têm que estar e dão mais velocidade à bola com um simples passe.

O argumento da altura e da quantidade de fibras nos músculos não faz sentido. O senhor que disse que Moutinho não é um fora de série de certeza que não viu o passe que ele fez para o Liedson no último Sporting-Porto. E eu não sou Sportinguista...



Como diría alguém que eu conheço: "isto nem com xeltox acaba"!

domingo, janeiro 20, 2008

1º Torneio Internacional Juvenil de Futebol-7 – Hernanicup – 2008


"A Escola de Futebol Hernâni Gonçalves vai organizar nos dias 4 e 5 de Fevereiro (2ª e 3ª Feira de Carnaval) de 2008, nas instalações do Nosso Campo no Porto o 1º Torneio Internacional Juvenil de Futebol-7 – Hernanicup – 2008. Este é um evento de grande envergadura organizado pela Nossa Escola e que irá contar com a participação de 24 equipas portuguesas (FC Porto, Boavista Leixões, Trofense, Imortal de Albufeira, etc.) e estrangeiras (Cartagena - Espanha), distribuidos pelos escalões de Escolas, Infantis e Iniciados, que irá envolver cerca de 500 pessoas entre jogadores, técnicos, organizadores e dirigentes."


Este é um verdadeiro incentivo ao Futebol de 7 nos escalões de formação. Num tempo em que quase todos os clubes defendem que miúdos dos escalões de escolas devem jogar em campos de futebol de 11, é de valorizar este tipo de iniciativas que vão contra a maré.