sábado, outubro 11, 2008

Formação


Valdano escreve: “Recordemos que o tempo é o melhor treinador e que é preciso deixá-lo fazer o seu trabalho”. Para mim, não há maior verdade que esta na formação. Podemos dar as voltas que quisermos, mas caíremos sempre que tivermos pressa. Valdano centra-se nos grandes treinadores e nos grandes jogadores, nas crises, na impaciência dos adeptos. Mas eu centro-me na formação. No tempo e na paciência que é preciso ter. Certamente o tempo não faz nenhum trabalho, mas é nesse tempo que os resultados aparecem. E é por isso que é importante esperar... Esperar que os resultados apareçam. Mas para esperar é preciso coerência. Se gosto de um Futebol bem jogado com muita variabilidade no que toca ao tipo de passe, com alternância constante de ritmos, muita circulação de bola com qualidade, é preciso ser coerente e saber que as coisas levam tempo a acontecer. As escolhas não podem estar contra esta ideia de jogo. Por exemplo, não posso escolher um avançado alto só porque vai ganhar os duelos com os centrais adversários, mesmo sabendo que tenho outro avançado muito bom na antecipação, na leitura de jogo, com muita qualidade de passe. Isso seria assassinar o avançado baixinho. E, no fundo, é o baixinho com boa qualidade de passe que tem a ver com o jogar que se pretende. Mas nem sempre há paciência e lá se vê um baixinho cheio de qualidade a ficar na sombra de um gigante que bate na bola sem querer. Coerência e paciência: "segredos" para uma forma de jogar com qualidade.

Formação


Weineck refere ainda que “(...) até aos 10 anos é impossível afirmar, com certeza, se a criança vai ser um nadador, um futebolista ou um tenista (...)”. Isto precisamente porque depois da barriga da mãe, vêm as barrigas da família e da sociedade. Portanto, há múltiplos factores que interferem no desenvolvimento dos talentos. Sendo assim, o processo requer tempo para se realizar. “O que se fez ontem tem que estar ligado com o que se fez antes de ontem e com o que se vai fazer amanhã”. E é necessário um enquadramento teórico, que não se esgota na configuração total, mas há uma necessidade dessa configuração teórica.
Dos 4 aos 18 anos existem dois níveis:
dos 4/5 até aos 13/14;
depois dos 13/14.
Devemos ter em conta que o indivíduo é a condição essencial, mas que não nos podemos esquecer de uma configuração da equipa. No primeiro nível, os jogadores não devem preocupar-se em jogar, respeitando a algumas regras. O professor/treinador é que deve saber com profundidade tudo sobre Futebol e deve entender também os défices de circunstância que os jogadores apresentam. Por isto se diz que o processo de construção da equipa acontece não conscientemente. Há medida que o processo passa a ser marcadamente intencional. Isto porque passa a haver uma capacidade de abstracção.

Formação e futebol: mais do mesmo


O processo de construção da equipa de futebol deve acontecer não conscientemente por parte dos jogadores, entre os 4 e os 18 anos, embora não deva ser totalmente não consciente. Mas até aos 4 anos nada deve ser desprezível. É importante o que se passa na “barriga da mãe, depois na barriga da família e depois na barriga da sociedade”. Jürgen Weineck diz por exemplo que “(...) o processo de formação das capacidades coordenativas, deve iniciar-se com a gravidez, antes do nascimento ou imediatamente depois, sendo por isso indispensável envolver os pais, os educadores dos jardins de infância, os professores e depois os treinadores, que se preocupam com as ciranças até aos 10 – 12 anos, no sentido da importância deste trabalho (...)”. Weineck refere ainda o circo, dizendo que há crianças capazes de realizar muitas tarefas de malabarismo, mas que contudo não se tratam de talentos excepcionais, porque considera que todas as crianças são capazes de realizar esse tipo de tarefas, se motivadas para tal e se viverem oportunidades com tal finalidade. Por isso, diz que esse treino “(...) começa em casa, com os pais, numa actividade diária, onde ainda não se fala em treino, mas em jogo e em brincadeira, em imitação, aproveitando a sua curiosidade (...)”. Neste sentido, acredito que tudo que aconteça desde a gravidez seja importante. E não sei se o processo tem que começar obrigatoriamente aos 4 anos. Porque não começar antes se assim for necessário?