sábado, maio 17, 2008

O jogo deve ter uma mecânica que, por sua vez tem que ter uma ordem, mas não pode haver um controlo excessivo, não devem existir robôs. Porque trabalhar com robôs implica maior dificuldade quando for preciso pensar em vez de executar mecanicamente. Contudo é importante salientar que se não houvesse uma mecânica sería complicada a existência de uma identidade. Portanto, a mecânica é importante, mas deve haver espaço para a imprevisibilidade. A criatividade, a liberdade para criar, devem estar patentes no jogo de futebol, mas para isso devem estar presentes no treino. É essencial perceber isto. E na formação, essa liberdade para criar deve ser fomentada e valorizada. Mas o que há muitas vezes é um “amarrar os jogadores às tácticas”, esquecendo que os jogadores é que jogam. É verdade que o cérebro tem que estar fora de campo (treinador) e dentro de campo (jogadores), contudo quem decide em função das circunstâncias é o jogador. É por esse motivo que entre a ordem deve haver espaço para o detalhe. Mas o que se faz hoje cada vez mais é uniformizar tudo quando há várias formas de conceber o jogo e diferentes formas de jogar. O facto de cada vez mais se privilegiar jogadores “tacticamente disciplinados” é uma forte evidência do fraco equilíbrio que há no Futebol de hoje. A história de Riquelme é um exemplo do estado em que o Futebol está. Para mim, jogadores como Riquelme têm que ter espaço em qualquer equipa. Para mim repito. E friso, nas minhas equipas adoraría ter um Riquelme. A partir do momento que sabería que tínha um jogador assim, o meu objectivo sería fazer a minha equipa jogar com Riquelme. Procurar criar dinâmicas que possibilitem a sua inclusão na equipa. Creio que é aí que está o desafio: é ter um jogador como Riquelme e fazer com que a equipa funcione. Abdicar de Riquelme e fazer a equipa jogar como as outras equipas jogam será muito fácil, porque tudo é igual. Talvez nem seja preciso muito esforço para copiar as ideias dos outros treinadores. Agora, criar uma nova forma de jogar, ou uma forma de jogar autêntica é mais complicado e requer muito esforço. Sem dúvida que requer. Questiono-me então sobre a formação. O que acontece quando aparece um miúdo com muita qualidade com muita propensão para atacar e pouca para defender? A função do treinador é fazer com que esse miúdo evolua e não pô-lo de parte. Deve haver essa valorização por parte do treinador. O treinador deve saber que pode vir a perder jogos, que os mecanismos para o seu jogar podem não surgir de imediato, contudo deve ser paciente e deve preocupar-se acima de tudo em ensinar com qualidade e motivar os miúdos sempre no sentido de fazer o melhor possível, porque não é fácil perder muito na formação. Mas o que se faz em muitos casos é pôr esses miúdos de parte porque os resultados não aparecem. Então convocam um jogador mais forte, mais alto que já consegue dar resposta às situações pretendidas. É a velha questão da pressa, de pensar no imediato. Nada é mais errado que isso na formação. Precisamente porque a pressa, a rapidez, pode ser muito . Baseado num texto de Valdano, há que dizer que a pausa pode ser um sintoma de um bom jogador de Futebol. Assim como na boa música há pausas, no bom Futebol as pausas também devem existir. É preciso saber pausar, olhar, vêr, impôr ritmos diferentes e inesperados. A virtude do Futebol não está nas “rapidezes constantes” mas sim naqueles momentos onde há alternâncias de movimentos, velocidades, de ritmos.

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